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Susana Bento Ramos
'Fronteira da Hipocrisia', Repórter TVI
Depois de trabalhos anteriores em que a preocupação com a denúncia da discriminação já estava bem presente, Susana Bento Ramos dedicou uma edição do "Repórter TVI" à "Fronteira da Hipocrisia" que tantas mulheres portuguesas têm que atravessar para engravidar.
A jornalista denuncia o absurdo de uma lei de 2006 que proíbe mulheres solteiras ou casais de mulheres de recorrerem em Portugal à inseminação artificial, quando a mesma técnica está disponível em Espanha para todas as mulheres desde 1988. Márcia e Ana, o casal que atravessa na reportagem a fronteira da hipocrisia até Espanha, são o exemplo de muito mais mulheres que continuam a ter que recorrer a este turismo civilizacional que a lei portuguesa continua a impor.
Susana Bento Ramos mostra-nos a humanidade do desejo de Márcia e Ana, que querem ser mães e sabem que estas técnicas existem e lhes são vedadas no seu país. Mostra-nos o peso da discriminação sobre estas mulheres e sobre tantas outras. E dá visibilidade a um tema que não consegue eco mediático precisamente por incidir sobre mulheres, tornando este seu contributo tanto mais valioso.
Um trabalho exemplar, de jornalismo atento, incisivo e empático; um trabalho citado na própria discussão parlamentar sobre este tema; um trabalho que soube quebrar o silêncio sobre uma questão tão fulcral para a autonomia e para a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos de todas as mulheres: eis um contributo que merece definitivamente ser celebrado.
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Gender Trouble
Teatro Municipal Maria Matos
O género perturba-nos. Sexismo, homofobia e transfobia estão sempre interligados e os sistemas de desigualdade que a ordem de género vigente estabelece continuam a prejudicar-nos enquanto sociedade e a limitar-nos enquanto pessoas. Mas a cultura também pode perturbar e pode desempenhar um papel fulcral no questionamento de um sistema de poder que é sempre difícil de desconstruir, cheio de binarismos e automatismos.
O Teatro Municipal Maria Matos promoveu em maio e junho de 2015 o ciclo Gender Trouble, para estimular o pensamento sobre performance, performatividade e política de género, num conjunto abrangente de debates, espetáculos, intervenções artísticas e workshops que tornou Lisboa também numa capital de crítica e resistência ao género enquanto sistema de poder.
Celebrando os 25 anos da obra homónima de Judith Butler, este ciclo trouxe Butler a Lisboa mostrando-nos que, para além das leis e das instituições, temos que saber questionar as normas culturais que nos limitam e, pelo contrário, promover uma outra cultura de denúncia e de desconstrução. Celebramos por isso a perturbação que este Gender Trouble soube causar, com o nosso aplauso.
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O Youtube trouxe-nos a visibilidade de um casal gay que nos ensina receitas com as cores do arco-íris, mas Lorenzo e Pedro trouxeram-nos muito mais. A sua participação na Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa foi um apelo genial à saída do armário que continua a silenciar tantas identidades em Portugal, marcando a importância da visibilidade e da apropriação do espaço público por parte de todas e de todos nós.
Foi também por isso que passearam de mão dada e trocaram beijos em Lisboa e no Porto, registando reações e mostrando que já estamos mais perto do direito à indiferença. Mas mostraram-nos também o vandalismo de que foram alvo pela sua visibilidade, que denunciaram no Observatório da Discriminação, porque é também fundamental quebrar o silêncio quanto à discriminação e quanto a todos os crimes de ódio que continuam a existir em Portugal.
Sim, Lorenzo e Pedro não se esquecem de sorrir, mostrando-nos que houve nas últimas duas décadas uma evolução clara na luta contra o preconceito em função da orientação sexual. Mas mostram-nos também que ainda temos um enorme trabalho de décadas pela frente: um trabalho de muita educação, formação e sensibilização. Celebramos hoje o contributo que o Lorenzo e o Pedro já deram para esse trabalho, na certeza de que continuaremos a aplaudir muitos mais contributos no futuro.
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ANEM/Centro Educativo da Bela Vista
Educação e Formação
No ano em que concluímos o projeto "Saúde em Igualdade" e mostrámos como o medo da discriminação afasta tantas vezes as pessoas LGBT do recurso a profissionais de saúde, a Associação Nacional de Estudantes de Medicina ajudou a mostrar como pode ser a saúde no futuro. Aliando o trabalho de diagnóstico dos problemas atualmente enfrentados a um trabalho alargado de sensibilização de norte a sul do país dirigido a profissionais de saúde de um futuro próximo, demonstrou como a educação é relevante para um futuro em que finalmente a saúde possa ser mesmo de todas e de todos nós.
E, no mesmo ano em que assinámos um protocolo com a Direção Geral de Saúde para que o trabalho de formação de profissionais desta área passe a acontecer de forma sistemática, celebramos também a área da Justiça. O Centro Educativo da Bela Vista, em Lisboa, dedica-se à reinserção social de jovens que foram agentes de factos legalmente tipificados como crimes. Face à vontade de integrar uma nova funcionária trans, levou a cabo diversas ações de formação quer junto de profissionais do Centro Educativo quer junto das e dos jovens, especificamente sobre a discriminação com base na identidade de género e sobre a realidade das pessoas trans em Portugal.
Dez anos depois do assassinato de Gisberta Salce Júnior, eis um exemplo de como podemos assumir uma responsabilidade conjunta pela integração de pessoas trans aos mais diversos níveis.
Educação e Formação, ótimos motivos para o nosso aplauso.
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Fátima Lopes
'A Tarde é Sua', TVI
Num horário que é cada vez mais de todas as pessoas, o programa "A tarde é sua" mostrou este ano que a tarde é também nossa. Tendo já dedicado no passado um programa à questão da coadoção, o programa de Fátima Lopes deu este ano visibilidade a dois temas importantes: a necessidade de acesso a cuidados de saúde competentes para pessoas trans e a questão da discriminação no acesso às técnicas de procriação medicamente assistida e na adoção.
O enfoque nas vidas das pessoas é - e tem que ser - o ponto de partida para opções políticas. Dar voz a quem enfrenta as dificuldades criadas pela discriminação é contribuir para acabar com fantasmas e para alertar para as realidades que o preconceito continua a impor. Quebrar o silêncio quanto à discriminação e o preconceito é um serviço público, que Fátima Lopes e o seu programa souberam prestar - e que celebramos com o nosso reconhecimento e aplauso.
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Feminista. Feminista. Feminista. É esta a palavra que precisamos de continuar a afirmar e que ganhou um enorme impulso com a plataforma online Maria Capaz. Ao longo do último ano, Rita Ferro Rodrigues e Iva de Lima deram voz a múltiplas vozes de muitas mulheres que continuam sempre a ter menos espaço para serem ouvidas nos media em Portugal.
A Maria Capaz trouxe-nos perspetiva, com a consciência do impacto do género bem presente em entrevistas a mulheres fortes e diversas; trouxe-nos diversidade, em muitas crónicas escritas também por autoras que se sentiram motivadas - e várias pela primeira vez - a partilharem convicções, experiências e exigências; trouxe-nos intervenção a vários níveis, num espaço plural que é feminista com as letras todas - sim, incluindo a letra L, a letra B, a letra T e até a letra G, porque a Maria Capaz sabe bem que as questões relacionadas com a discriminação com base na orientação sexual e na identidade de género são fundamentais para a igualdade de género.
'Capazes' já é um novo grito de guerra pela autonomia das mulheres - e esta plataforma já é central no debate de questões fundamentais como o aborto ou o acesso à procriação medicamente assistida. Num país em que a discriminação e a violência de género estão tão longe do fim, sabemos hoje que cada vez somos mais capazes de afirmar a igualdade - e aplaudimos, por isso, a Maria Capaz.
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